O mundo acordou órfão. O falecimento de Eric Júnior Hobsbawm aos 95 anos ontem em Londres/UK representa nossa orfandade sobre a visão holística de mundo, pois não deixa herdeiros, como ele fora da terceira geração de intelectuais dos séculos XIX e XX, Hegel, Engels e Lênin, da primeira geração; de Fernand Braudel, da segunda geração; e de Paul Mantoux e Lefebvre, da terceira geração. O intelectual britânico é considerado o maior historiador do século XX, cuja bibliografia invejável foi dedicada a pensar sobre os últimos três séculos, se tornando o centro de seus estudos.
Em 1962, Hobsbawm publicou o primeiro dos três volumes sobre o que chamou de “O Longo Século XIX”, formados pelos títulos “A Era das Revoluções (1789 – 1848)”; “A Era do Capital (1848 – 1875)” e “A Era dos Impérios (1875 – 1914)”. Mais tarde, em 1994, escreveu sua obra prima “A Era dos Extremos – O Breve Século XX (1914-1991)”, sobre o período correspondente no título. Seu último livro intitulado de “Como Mudar o Mundo – Marx e o Marxismo (1840 – 2011)” foi lançado no ano passado, e fecha o ciclo do seu pensamento sobre o cotidiano e o futuro da humanidade, embora abominasse a ideia de continuísmo das obras, mas o que é inevitável, pois reflete a máxima de que só é possível compreender o presente e projetar o futuro, estudando o passado.
Hobsbawm foi considerado pelo jornalista brasileiro Luciano Agra em seu artigo “A Inovação Marxista na ótica de Eric Hobsbawm” o mais erudito dos pensadores do século XX, como aquele que “sabe tudo, diz tudo, explica tudo”, um exemplo disto foi o fato de se valer dos fenômenos sociais do jazz e do futebol para explicar sentimentos nacionalistas relevantes no século XX.
Sobre o futebol cravou: “a comunidade imaginária de milhões parece ser mais realista do que um time de onze pessoas". Já do jazz observou: “...os negros incorporaram a discriminação secular na forma de fazer música e tinham um contato quase espiritual com o instrumento...”
O pensador esteve no Brasil em 1992 a convite da UFSC para palestrar no lançamento do Programa de Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da instituição, inclusive, encabeçando a ata de criação do programa.
Em 2003 voltou ao Brasil para a primeira edição da Festa Literária de Paraty/RJ, aonde chegou a se queixar dos dias de pop star vivido no Rio de Janeiro. Hobsbawm era um profundo conhecedor da realidade brasileira e certa vez sentenciou: “... A desigualdade social no Brasil é escandalosa e criminosa (...) reduzir este abismo social é o maior desafio dos brasileiros no século XXI...”.
A bibliografia do autor no Brasil mais completa pode ser encontrada na livraria cultura em:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/busca/busca.asp?palavra=Eric+Hobsbawm&tipo_pesq=0&tipo_pesq_new_value=false&tkn=0.
Ewerson Duarte da Costa é advogado ambientalista, professor universitário e cuiabano.